A última dança

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010.

        Na época da segunda guerra, ser judeu numa Alemanha hitlerista não era nada fácil, mas eu e meu pai conseguimos identidades alemãs com um antigo amigo dele que também era meu padrinho. Havíamos perdido tudo e vivíamos de favor em sua casa. Eu me chamava Helene e meu pai Alarick. Ele jardinava e raramente saía para que não fosse reconhecido como judeu, eu passava a manhã na escola ouvindo barbáries sobre meu povo, minha mãe era alemã e assim sendo eu era uma “mestiça”, coisa inaceitável naquele período. Como ela eu tinha cabelos finos e loiros e olhos tão azuis que meu pai os comparava a pequenas safiras.
         Eu cresci assim, com o medo de ser descoberta a qualquer momento e perder o pouco que me restara. A única coisa que confortara minha infância foram as histórias maravilhosas de meu pai onde quase sempre havia as princesas que esperavam pacientemente por seu príncipes para serem levadas na garupa de cavalos brancos até belos castelos.
Eu esperei muito pelo meu príncipe, mas ele não veio, ao menos não como eu esperava. Resolvi sair, eu não merecia viver trancafiada, com medo de que batessem a minha porta e me levassem para um dos campos. Se fosse pra perecer, eu pereceria lutando. Encontrei um emprego como secretária de um dos generais. ele era um nojento, mas na situação em que eu estava não dava para escolher o patrão.
         Eu trabalhava a manhã e a tarde. não era muito cansativo, eu só levava documentos para cima e para baixo, era muitos papeis. Até que um dia recebi um documento que contabilizava quantos haviam sido mortos no campo de Dachau naquele ano de 1942 que mal terminar. Eram mais de 2400 mortos! Eu fiquei zonza ao ver os números e um soldado que estava próximo evitou minha queda. Eu pedi para ir para casa.
Eu sabia que vários do meu povo morriam em campos como o de Dachau, mas saber o número exato era aterrador. Quando cheguei em casa não agüentei corri para meus aposentos — nada luxuosos por sinal — e chorei como nunca havia chorado.
         No outro dia eu estava restabelecida e quando cheguei ao escritório encontrei o mesmo soldado que me ajudara no dia anterior. Seu nome era Erich, ele era alto, e tinha cabelos castanhos — não tão comuns naquela época — olhos verdes da cor de esmeraldas, ele era alto. Ele perguntou-me se eu havia melhorado e quis saber o motivo da súbita crise. Eu menti. Disse que eu havia tido uma vertigem, e que às vezes acontecia isso comigo.
Os dias se passaram e eu continuei a vê-lo. Esporadicamente falávamos sobre alguns assuntos leves, e essas conversas foram ficando cada vez mais freqüentes. Até que um dia ele me convidou para um jantar informal, num dos restaurantes das redondezas.
         No mesmo dia quando cheguei em casa fui pedir conselhos a meu pai, em quem a idade já havia começado a deixar suas marcas. Ele me disse que era apenas um jantar, se eu me interessasse por ele fosse se não o dispensasse.
         Aceitei prontamente o convite no outro dia e iríamos a um fino restaurante daqui de Munique. O jantar correu na mais perfeita harmonia e ele me fez um pedido deveras inesperado. Ele me pediu em namoro.
Fomos levando esse namoro, até que chegou a um ponto crucial em que ele queria conhecer o meu pai. Alariki não tinha tantas características judias, meu avô era alemão, as únicas coisas que deixavam claro a ascendência dele eram seus olhos escuros, seus grossos cabelos escuros, alguns traços não tão marcantes. Apenas um observador muito atento repararia.
         Ele não reparou. Gostou muito do meu pai e pra minha completa surpresa pediu-me em casamento. Alarik consentiu e eu aceitei. Marcamos a data e começamos os preparativos.
Mas havia um problema. Eu tinha de dizer a ele sobre minha origem e armei um plano para isso. Iria com uma arma e contaria tudo e se ele dissesse que não se importava, e eu acreditasse nele, continuaríamos o casamento. Ou então eu o mataria lá mesmo, por mais que me doesse ter de fazer isso. Eu não poderia por em risco a minha vida ou a do meu pai, ele não tinha mais forças para enfrentar um campo.
Assim fiz. Contei-lhe tudo e ele confidenciou-me que havia percebido desde o início que meu pai era judeu, mas não me contara nada para que eu não ficasse preocupada.
          Ele era de família rica. Entrou para o exército acreditando que poderia melhorar a Alemanha, mas quando chegou lá viu que não era bem assim. Eles torturavam pessoas inocentes, apenas por que precisavam culpar alguém. Então quem eram os mais fracos? A minoria. Os judeus. Então foi simples: culpem-nos. Mas ele não podia mais sair, uma vez dentro sempre dentro.
Planejamos fugir para Suíça, e depois partir para os Estados Unidos ou algum país dos trópicos, onde eu e meu pai pudéssemos viver sem medo de sermos descobertos.
          O casamento estava marcado, mas um mês antes haveria uma festa para que a família dele me apresentasse a seus amigos. Eu estava nervosa, pois meu pai não iria, não podíamos nos arriscar tanto. Ele já iria ao casamento, meu padrinho me acompanharia na festa. Inventamos uma desculpa de que meu pai não estava se sentindo bem.
A festa corria as mil maravilhas. Eu e ele circulávamos entre as mesas e resolvemos dançar. Dançamos diversas músicas juntos. Nossos corpos estavam em uma sintonia tão afinada que chegava a impressionar. Éramos realmente feitos um para o outro. Não queria que aquela dança acabasse nunca.
         Mas não foi possível. O alarme anti-bombardeio soou e houve desespero. Vimos bolas incandescentes de fogo cortando o céu em direção a terra e onde elas batiam tudo ficava em ruínas. Saímos daquele prédio, alvoroçados, não olhei para trás corri para o mais longe que pude em meio à multidão apavorada. Escondi-me num beco, até que tudo acabasse. Os alarmes soaram avisando que poderíamos voltar e quando saí de meu esconderijo vi tristeza e desolação. O prédio onde havia sido a festa estava completamente destruído e foi então me dei conta de que Erich não estava comigo. O que havia acontecido com ele?
        Saí louca pelas ruas arrasadas de Munique, gritando seu nome para quem quisesse e quem não quisesse ouvir. Achei sua mãe e seu pai mortos embaixo de uma viga, nas proximidades do salão, mas também achei meu padrinho que me deu dinheiro para que eu saísse urgentemente dali e recomeçasse minha vida. Eu recusei a princípio. Eu não sairia sem Erich. Ele me disse que viu uma das colunas o atingir, ele não conseguira sair do salão. Eu quase sucumbi aquela informação e ele vendo que eu não agüentaria por muito tempo entregou-me um passaporte na minha mão e uma boa quantia de dinheiro. Disse-me para fugira dali o quanto antes. Aceitei pois não havia mais nada para mim ali.
       Peguei um trem na única estação que restara na cidade. Fui para suíça e de lá fui para os Estados Unidos onde consegui emprego. Astolph, o homem que me criou junto ao meu pai, me mandava correspondências com freqüência. Quando o Eixo venceu a Alemanha ele me convidou para voltar, mas eu não suportaria rever todos aqueles lugares onde um dia fui feliz com Erich.
Muitos anos depois, eu já estava com meus quarenta e cinco anos, recebi uma carta escrita pro Astolph em seu leito de morte. Ele me disse que Erich não estava morto. Ele havia dito aquela mentira para que eu saísse de lá o mais rápido possível. Na carta constava o endereço de Erich, pois ele também havia vindo para os Estados Unidos e morava em Los Angeles. Eu tinha de ir vê-lo! Havia sofrido muito por ter achado que o perdi. Comprei bilhetes de San Francisco para LA. Estava ansiosa, mas eu o encontraria nem que eu tivesse de acampar em sua porta.
      Cheguei de frente à porta. Respirei fundo e toquei a campainha. Ele abriu ficou estupefato a me ver parada em sua frente. Nenhum de nós conseguia falar nada, apenas nos envolvemos num abraço apertado. Ele pôs uma música e começamos a dançar e como na primeira vez que dançamos juntos, eu não queria que aquele momento acabasse nunca.
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O grande captador

quinta-feira, 11 de novembro de 2010.

No passado fui forte como um touro, porém hoje, me comparo a um inseto
qualquer, era rápido, um guepardo, hoje uma lesma me ultrapassa, mas não vim aqui
para lamuriar-me do que fui e não sou mais, vim para dizer-lhes a minha história e meu
fatídico desfecho.
Nasci numa pequena vila, Nowhere, literalmente no meio do nada, no inverno só
havia neve, no verão terra rachada, não sabíamos o que era primavera ou outono, os
coletores iam para onde eu não conhecia, e de lá voltavam com o que nos supria, eu
perguntava e não me respondiam.
Até que um dia fui escolhido, um dos guerreiros não voltara e eu no auge dos
meus 16 anos era seu sucessor, levaram-me depois que me despedi de minha mãe, não
havia conhecido meu pai ainda.
Andamos num rumo que eu desconhecia e quando a vila finalmente sumiu de
vista, paramos, deram-me uma bebida a tomei, engoli, amargou-me a boca, não havia
mudado aparentemente, mas sentia diferente, era como se pudesse deslocar montanhas.
Depois seguimos até a margem de uma floresta.
Entramos na selva, as árvores nos engolfavam, senti medo, a cada passo as
folhas estalavam e meu coração palpitava, mal sabia eu que dali a pouco, eu começaria
algo que me nomearia pela eternidade, eu me tornaria o Grande Captador.
Acampamos numa clareira ampla e estranhamente pentagonal, uma frágil lua
minguante lançava sua fraca luz, iluminando o centro da clareira e criando sombras
tenebrosas nas margens, não senti medo. Assim que tudo estava pronto, eles me
disseram o que eu tinha de fazer. Jean que era o mais benevolente de todos me explicou
como minhas habilidades foram despertas, que a bebida havia feito isso, mas não era
apenas tomá-la, isso estava escrito em seu sangue, era algo que passava de geração em
geração, perguntei se meu pai também havia sido um dos nossos, ele me disse que eu
saberia tudo no tempo certo.
Dormi à beira da fogueira, de manhã no outro dia senti um vazio no estômago,
não era fome, era uma coisa diferente, era uma sensação de auto-suficiência. Chermon
me deu um punhal, era amolado e brilhante, dissera-me que era meu só eu poderia
manuseá-lo de agora em diante e ele não me serviria de nada se tentasse usá-lo para algo
além de uma morte limpa e necessária, ele pesaria em minha mão, seria uma tonelada de
aço condensado num pequeno volume, nem mesmo o mais forte dos guerreiros poderia
erguer.
Saímos floresta adentro Chermon me acompanhou, disse-me que hoje era o dia
de coletar vegetais, o dia transcorreu como deveria, ele me disse quais frutas e vegetais
colher e quais não colher, mostrou-me também algumas ervas que eram usadas como
remédios, e antes de tudo isso me deu uma bolsa, por mais que eu tentasse eu não
conseguia a encher, naquele momento descobri o porquê deles chegarem com bolsas tão
pequenas, mas cujo conteúdo nos supria por semanas e às vezes até mesmo meses.
O crepúsculo já despontava, mas eu não estava cansado nem com fome, apesar
de não ter comido nada desde a manhã, mas ele me disse que deveríamos ceiar alguma
coisa, pois era essencial para nos mantermos com toda a energia necessária.
Quando a lua estava alta no céu, Chermon chamou-me para a caçada, nos
dividiríamos em pares novamente, só que dessa vez não iria com ele, e sim com
Gregório, que andava com um arco e uma aljava carregada de flechas afiadíssimas,
parecia que suas flechas eram encantadas, pois não errara o alvo nunca.
Ele me guiou pela selva mostrou-me rastros que os animais deixaram, tanto de
fezes, quanto de passos.
—Sempre mate apenas o necessário, nunca uma fêmea e nunca um filhote, você
saberá distinguir quem é quem—falou com calma.
—Mas eu nunca vi um animal comestível antes, exceto quando ele já está assado
no meu prato.
—Você saberá.
Então entramos floresta adentro, ele se subiu em uma árvore e ficou lá enquanto
fui para trás de um arbusto com meu punhal, um enorme animal com presas enormes e
que soltava um grunhido horrendo. Não sei como ou porque me joguei em cima dele,
mas foi incrível, eu acertei-o com o punhal exatamente no pescoço ele não teve tempo
nem para reagir, Gregório pulou da árvore e em segundo estava atrás de mim chegou ao
ouvido do bicho e falou:
—Que Dieu sauve ton âme—virou-se para mim—Decore essa frase, significa
“Que Deus guarde sua alma”, sempre diga isso ao matar algo, tem que ser uma morte
limpa e necessária.
—Certo, mas como carregaremos isso até o acampamento?
—Simples, puxe uma presa e arraste.
—Não vai me ajudar?
—Você caçou, você carrega.
Puxei-o por uma presa como me foi dito, e era como se fosse uma pluma de tão
leve, pus o corpo inerte nas minhas costas e o levei em direção ao acampamento onde
cada um já nos aguardava, tirando o couro, e fatiando a carne. Gregório se pôs a me
ensinar realizar esses processos, era bem fácil e divertido.
—Hora de voltar— anunciou Jean.
Cada um levou sua caça enrolada em bolsas de couro. Quando o sol estava
raiando saímos à borda da floresta e por mais estranho que parecesse, só passamos um
dia e duas noites na floresta, mas a paisagem antes desértica estava agora coberta por
neve, uma camada bastante grossa, nada típica de um começo de inverno. Vendo minha
cara de espanto explicaram-me que o tempo passava, na nossa vila, de uma forma
diferente da do resto do mundo, era por isso que eles demoravam tanto a voltar.
Ao chegarmos minha mãe abraçou-me ternamente, beijou-me a testa de uma
forma carinhosa, as lágrimas que os olhos dela vertiam escorriam pelas minhas costas
umedecendo levemente minha roupa. Quando enfim me soltou do abraço, seus olhos
pálidos como jade estavam inundados de lágrimas que ela não tentava esconder.
As mulheres da vila pegaram o que trouxemos e foram repartir uma parte entre
todas as famílias e outra parte foi levada para a dispensa comum. Naquela noite, como
sempre havia quando os “Coletores”, era assim que nos chamavam, houve carne de
todos os tipos, vinho suficiente para embebedar cem homens. Passamos duas semanas
do nosso tempo até a próxima coleta.
Continuei coletando por diversas vezes e percebi que a diferença de tempo da
nossa vila para o resto do mundo era aleatória, às vezes uma noite fora do povoado
correspondia a alguns segundos nele, já outras vezes poderiam ser meses, mas até que
um dia quando fomos coletar, vimos que no mundo exterior o tempo tinha passado
rápido demais a floresta estava pequena, se é que se podia chamar aquilo de floresta, os
outros não ligaram, já tinham visto mudanças maiores que apenas uma redução de
tamanho, mas eu podia sentir que havia algo diferente, me separei do grupo e corri em
uma única direção até sair da mata, no meio de um lugar cinza com coisas enormes e
pontudas, depois eu viria, a saber, que eram edifícios, eu em sentia perdido, andei por
entre os prédios, as pessoas se vestiam de forma muito estranha, as mulheres usavam
calças como se fossem homens.
Já à noite, voltei à floresta e não os encontrei mais, me senti sozinho como nunca
havia me sentido. Nunca mais os vi, não faço à mínima ideia de como estão ou se ao
menos ainda estão vivos. Quando percebi que não havia como voltar sozinho, chorei
como nunca havia chorado e como nunca mais voltaria a chorar, ao menos foi isso que
pensei.
Voltei para cidade, só tinha a roupa do corpo e o meu punhal, quando cheguei
num espaço aberto enorme ,com cercas ao redor da grama e bancos, o dia já estava
raiando, me deitei num dos bancos. Quando finalmente consegui dormir um homem alto
e forte, me perguntou se eu era de Nowhere, respondi que sim, disse-me para segui-lo.
Entramos numa casa onde estavam dois sujeitos, ele me explicou que para poder
se sustentar eu devia usar minhas habilidades, pegou meu punhal e o avaliou. Avisoume
que eu o guardasse como recordação, pois a partir de agora não me serviria de nada.
Eu passaria a captar cabeças de foragidos para quem me pagasse melhor, meu
primeiro trabalho foi entregar a cabeça de um policial a um chefe da máfia, pois ele
tinha prendido o filho dele, agora eu tinha uma nova arma, era um tipo moderno de
arco, só que com pequenos tubinhos de metal no lugar de flechas e também era bem
menor e tinha uma forma diferente.
Matei muitos por dinheiro, passei a sentir prazer nisso, eu tinha um apelido “O
grande captador”, pois eu era o mais requisitado e sempre levava a cabeça, dentro de um
saco de couro, para o contratante para assegurar que havia sido a vítima certa.
Mas numa dessas “caçadas”, fui contratado para matar uma moça de 17 anos,
pois o pai dela tinha tirado a vida do filho de um rico magnata, então iria receber na
mesma moeda, ela era linda, tinha cabelos cor de mel e olhos que pareciam bombons
feitos com um chocolate fino, eu esqueci completamente qual era minha missão ali, e
cometi um enorme erro.
Ao invés de decepá-la, puxei-a para junto de mim e sussurrei que deveria me
seguir se quisesse ter alguma chance, então corremos para longe, pegamos um avião, eu
tinha muitas identidades graças ao meu trabalho e também, muitos contatos que eu
poderia usar antes que o que eu fiz ficasse sendo sabido por todos, consegui uma
identidade para ela, passaria a se chamar Mary e eu Steve, fugimos para um país dos
trópicos.
Dias depois soube que tinham descoberto o que eu havia feito, mas não
importava mais, nós estávamos felizes e nos amávamos. Recomeçamos nossas vidas, eu
trabalhando como veterinário numa pequena cidade, junto com a identidade nova
consegui um diploma também. Ela tinha só 17 anos, cursou a faculdade de
contabilidade e tornara-se uma contadora respeitável.
Mas você pode tirar o homem das matanças, mas jamais poderá tirar a matança
do homem. Eu não resistia a essa vida pacata, eu precisa de adrenalina fluindo por meu
sangue, então voltei a matar, não mais por dinheiro, mas apenas pelo prazer. Mary
percebeu a mudança em mim e aos poucos também foi mudando, e eu estava tão imerso
em mim mesmo que não percebi isso, fui afundando cada vez até que eu não podia viver
sem adrenalina.
Quando cheguei em casa com a roupa suja de sangue, e uma faca pingando esse
fluido vital, ela não pode mais negar para si própria, foi a gota final. Ela correu
desesperada e se trancou no quarto, passei à noite toda implorando que abrisse para que
eu pudesse me explicar, até que caí no sono.
Ao acordar não restava mais nada dela, nem ao menos uma única peça de roupa,
só havia um bilhete que dizia que eu não ter a matado foi o meu erro, teria sido menos
doloroso para os dois, eu não podia resistir a isso. Então peguei meu punhal que há
muito tempo não usava. “Dieu sauve mon âme”, foram as últimas frases pronunciadas
por meus lábios, enfiei o punhal em minha garganta, não senti dor, não soltei nenhum
gemido.Enfim você se torna apenas uma lembrança desfocada no coração de quem te
amou um dia, assim como eu me tornei.
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Agradecimentos

quinta-feira, 4 de novembro de 2010.
Esse blog só chegou ate aqui devido a diversas pessoas, não poderei citar os nomes de todos porque senão passarei a noite toda citando nomes, mas por agora vão alguns que lembrei:

Darlan: por ter me incentivado a começar.
?????: por ter refeito o template para mim (Queria direitos autorais pelo nome)
Shirlya E.: minha pequena revisora punk(eu ainda acho que ela está mais pra gótica)
Rudah: o cara que lê e comenta os posts comigo.
Pam, Lídia, Hyago, Brenda, Cah, Raffa e muitos outros: que me ajudaram a divulgar
Tio Júnior: professor de português que passa o pente fino nos textos


Agradeço a todos de coração mesmo
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Aroma da morte

A1
            Em uma pequena cidade, vivia uma família feliz, constituída por um casal que vivia em perfeita harmonia, suas duas lindas meninas, e a mãe dela. Alberto era um médico respeitado na cidade, mesmo apesar de ser muito jovem. Helena, a esposa, era empresária, tinha uma pequena loja de móveis e eletrodomésticos, e com todas as inovações de hoje em dia só ia à loja duas vezes na semana, Isabel a garota mais velha tinha oito anos e Anita tinha cinco. Dona Isaura tinha sessenta anos, mas irritava demais o genro, ela sempre buscava algo pra colocar defeito, nada nunca estava bom.
            A pedido de sua mãe, Helena foi conversar com um tarólogo, pra que caísse em si, e visse que não devia permanecer casada com aquele médico sem ambição.
Chegando lá o vidente foi logo falando.
            -Por que alguém com uma vida tão feliz e estável viria até aqui?-Disse apenas ao a olhar.
            -Insistência da minha mãe, ela acha que devo arrumar um marido melhor. –Disse ao perceber que sua mãe havia saído.
            -Então vamos fazer o básico, dê-me sua mão- Disse levando-a para si- Hum. Nem tudo que cheira bem é perfume.  E avise a seu marido, que tome cuidado com o que coloca dentro de si.
            -Só isso que tem pra mim?-Perguntou indignada pelas previsões vagas que ele deu, e ainda mais porque teria que pagar por essas baboseiras.
            -Por hoje só. São exatamente 30 reais.
            -Aqui – Disse entregando a quantia pedida
            -Volte sempre- Disse o homem.
            Ela não respondeu, mas pensou, “Esse homem jamais me verá novamente nem em meu sepulcro”. Mas não sabia ela o peso das palavras que pensou.

           
           
2

Alberto estava saindo do consultório e encontrou um velhinho vendendo algumas plantas, e como sabia que Helena sempre gostara de plantar coisas novas no jardim ele foi até o vendedor, que era um velhinho de olhos sagazes e astutos.
            - O que o senhor tem aí?- disse aproximando-se dele.
            -Hum, deixe-me ver tenho cravos, rosas, violeta, e lírios – falou apontando cada um deles.
            -Eu queria algo diferente, incomum, porque minha esposa gosta muito de plantas e ela já tem todas essas – Disse ele ao homem.
            -Deixe-me ver eu tenho algo que não se encontra com facilidade e exige certos cuidados, quer ver?-Perguntou com um olhar inquisidor.
            -Sim, ela é muito cuidadosa com plantas, alguns cuidados especiais vão fazê-la gostar ainda mais do presente.
            -Então aqui está – Mostrou um pequeno vaso com uma plantinha de flores verde-mar.
            -Mas são encantadoras- Estupefato, o homem disse.
            -Veja bem, existem alguns cuidados, jamais deixem que os frutos amadureçam. O que ocorre muito depressa, eles passam um mês como flor, mas depois que elas murcham e o fruto começa a se desenvolver é questão de um dia para o amadurecimento e a liberação de sementes ao vento, então o mais importante de tudo nunca, preste bem atenção, nunca mesmo tire-a do vaso para plantar no chão, nunca.
            -Certo, quanto custa?
            -Só três reais.
            -Só isso, por essa planta de beleza tão rara.
            -Só, mas você tem plena certeza do que está fazendo e mesmo assim quer levá-la?
            -Sim, quero.
            -Então tudo bem a escolha é sua- disse o homem ao entregar o vaso.
            -É pesado, pensei que fosse mais leve.
            - Ficará mais pesado ainda, você verá- Disse ele como se tivesse tirado um enorme peso das costas.
            Alberto deu o dinheiro e se despediu do senhor, saiu caminhando, ao olhar pra trás percebeu que ele já estava se retirando com suas coisas, “provavelmente para vender em outro lugar”, pensou Alberto.
3
Quando Alberto chegou em casa aquela tarde, com o vaso de flores exóticas, a primeira pessoa que encontrou foi Isaura sua sOGRA , e como sempre, começou a reclamar.
            -Por isso, que vocês não avançam, porque você é um preguiçoso, ao invés de está no trabalho ganhando dinheiro, sai mais cedo- disse ela com um tom elevado de voz.
            -Boa tarde, hoje nem mesmo a senhora poderá estragar meu dia.
            -Veremos. -Disse com um ar de desdém.
Aquela velha o irritava se ele chegava tarde em casa, era um irresponsável, que não tinha compromisso com a família, que o falecido viúvo dela, sempre chegava no horário correto, era um homem compromissado. Em contra partida se ele chegasse cedo, ela dizia que ele era um homem sem ambição, que nunca progrediria na vida. E coisas do tipo, mas apesar de toda a falação, ele tinha que aturá-la, pois Helena não queria deixar a mãe longe.
            -Hey, Helena você está lindíssima hoje - disse aproximando-se por trás dela enquanto ela revolvia a terra das roseiras que ficavam plantadas nos canteiros do jardim- Tenho uma surpresa, pra você.
            - Ahh, me mostra, sabe que sou curiosa- disse tentando ver o que havia nas mãos dele que estavam para trás.
            -Aqui- disse entregando-lhe o vaso com a planta de flores verde-mar.
            - Nunca ouvi falar de uma planta com flores de tal cor- disse maravilhada.
            -É nem eu, comprei a um senhor que estava vendendo plantas, na frente do escritório, ele disse que tem que tomar alguns cuidados.
            -Quais?-Perguntou Helena.
            -Ele disse que não devia deixar que as flores virassem frutos, o que acontece com uma extrema rapidez, depois de murchas levam por volta de vinte e quatro horas pra que estejam maduros, e jamais deve plantá-la no chão - disse ele sem esquecer-se de nenhuma recomendação.        
            -Me lembrarei de tudo isso, pois não quero ver uma planta de tão rara beleza morrer, aliás, quanto pagaste por ela?
            - Só três reais. Achei estranho ele cobrar tão pouco por uma planta tão difícil de encontrar.
            -Estranho mesmo, mas o que importa é que amei o presente e vou cuidar dele com todo o cuidado que for possível.
            -Venha vamos pra dentro- disse entrando em sua casa

4

Passou um mês desde que Helena ganhou a planta, e um dia ela percebeu que a planta que ela cuidava com tanto zelo, seguindo a risca o que o vendedor a disse, estava gerando pequenos brotos. Então ela pensou “O homem disse que não se devia plantar nunca a planta no chão, mas não disse nada a respeito dos brotos, vou fazer um teste, vou plantá-los no canteiro, se morrerem não perderei nada, ainda permanecerei com a planta adulta”, e assim ela fez, os plantou em um canteiro que estava vazio.

5

Todos que chegavam a casa deles agora se sentiam encantados, pois os brotos de flores verdes-mar cresceram tanto, que cobriram a casa deixando apenas as portas, janelas e uma parte onde havia uma pequena chaminé de uma churrasqueira interna sem vegetação. Era lindo, algo completamente perfeito, e o mais incrível é que nunca foi podada, ela naturalmente se ajustou aos contornos da casa. Sem contar o doce e mareado perfume que a planta exalava, principalmente à noite, mas tudo estava perfeito demais pra ser verdade.
Certa noite Alberto, desceu a noite pra beber um copo d’água, e voltou à cama, e quando o dia amanheceu ele não estava mais entre os que respiravam. Alberto falecera de uma parada cardíaca no meio da noite, a autópsia não conseguiu decifrar o que causou a morte, na certa alguma substância ainda desconhecida. Essa perda abalou a todos, principalmente Helena e as filhas e até mesmo dona Isaura ficou abalada, pois por mais ofensivo que fosse o que ela dizia a ele, ela sentia certo apreço por ele.
15 dias após a morte, Helena estava dormindo junto com as filhas, Anita e Isabel e ouviu um rangido na janela, ela se aproximou para observar o que tinha ocorrido, quando se aproximou da janela viu que a bela planta que a todos encantava estava invadindo violentamente a casa então foi olhar os outros cômodos e não era só a janela de seu quarto, mas sim todas as janelas e portas da casa. Helena acordou as meninas às pressas para tentar fugir, passou pelo quarto de sua mãe que já estava histérica, as quatro observaram todas as possíveis saídas que puderam imaginar, mas todas elas já estavam sendo tomadas por aquela maldita erva de traiçoeira beleza, então só puderam correr para o cômodo central da casa que era a cozinha, quando chegaram lá o cheiro começou a se intensificar e ficou cada vez mais inebriante, Isaura começou a ficar sonolenta.
-Mãe não durma, não durma... -disse Helena, repetidas vezes tentando manter a mãe acordada.
- Minha filha, saiba que te... - disse dona Isaura antes de dar seu ultimo suspiro.
—Não!—Helena gritou, começando a chorar
E então Isabel a mais velha começou a tossir, ela tinha asma e esse cheiro estava afetando sua respiração, e tão rápido como começou a tosse, cessou,deixando inerte o pobre corpo da garota.
Helena só tinha agora sua pequena filha Anita, ela não podia perdê-la também. E como se respondendo a sua pergunta ela ouviu em seus pensamentos “Tão tolo homem foi seu marido, agora está morto, não tomou cuidado com o que tomava. Sua mãe tão cheia de si também se foi, sua filha mais velha não deu nem trabalho, agora só resta você e a pequenina, e essa última faço questão de matar de forma dolorosa, porque você tão tola, me fez crescer forte e bela, e olhe que ironia agora eu acabarei com você, ou melhor, acabarei com tudo aquilo que você ama antes.”
Helena não podia acreditar, a planta, aquela tão bela, que ganhou do marido estava trucidando com a vida dos que ela amava, então ela se lembrou repentinamente que havia uma churrasqueira com uma chaminé baixa que dava pra fora da casa, por onde ela não conseguiria passar, mas Anita sim. Mas teria de haver uma distração para que houvesse tempo para que ela pudesse fugir. Então ela teve a ideia de atear fogo na casa, eles guardavam um litro de gasolina no armário para o caso de alguma necessidade e os fósforos estavam ao alcance de sua mão.
Ela não pensou duas vezes pegou-a no colo e correu em direção à chaminé, apanhando os fósforos no caminho, ela teria de ser rápida não havia tempo, ela enfiou Anita para dentro da chaminé e lhe disse:
-Quando eu mandar corra para fora e não olhe para trás.
Ela correu pegou a gasolina sentiu o cheiro ficar cada vez mais forte, ela já estava a perder os sentidos, mas lembrou-se de sua filha não podia deixá-la morrer, então ela pegou a gasolina e começou a despejá-la por toda a cozinha e sala, e ainda abriu o botijão de gás, até que os ramos da planta a alcançaram e se enroscaram nela impedindo-a de se mover.
-Anita corra- gritou ela.
Obediente a menina saiu da chaminé e desceu pela escada, que ficava lá, para quando iam limpá-la, ela correu o máximo que pode e quando ela tinha andado apenas o suficiente para sair do muro da casa houve uma explosão, e depois não restava mais vestígio algum da casa, da maligna planta e ainda menos de sua mãe.   
                                             

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Contos

terça-feira, 2 de novembro de 2010.
Todos os contos são devidamente registrados em cartório, então qualquer plágio será punido como tal
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Post mortem

Numa noite escura, o céu parecia pesar. Raios o riscavam em direção ao chão, por segundos, era como se a noite tivesse virado dia. Estava para cair um grande temporal naquela pequena cidade, e nessa situação, três jovens - duas garotas e um rapaz -, resolveram “pregar uma peça”.
Eles saíram em direção ao hospício, - especificamente no cemitério de indigentes - levando um grimório* comprado pela internet, e o abriram em um encantamento que prometia trazer de volta aqueles que não mais estavam entre os vivos. Ignorando completamente os avisos sobre as consequências, eles deixaram-se levar pela adrenalina e tentaram invocar forças desconhecidas, implorando ajuda aos antigos deuses pagãos. Nada aconteceu. Os três, decepcionados e frustrados, deram meia-volta em direção a suas medíocres casas. Mal sabiam que 15 minutos depois que partiram, algo mudou naquele lugar.
Anita, uma das internas por visões sobrenaturais, sentiu o ar esfriar e percebeu o que havia acontecido. Seu grito de angústia ecoou pelo quarto trancado. Ela esbravejou e berrou, os enfermeiros deram-lhe tranqüilizante sem acreditar em uma palavra do que aquela mulher dizia. Não demoraria para todos saberem que ela não era louca.    

* Grimório: livro de conhecimentos mágicos com anotações de práticas pessoais, muito comum no final da Idade Média. Tais livros contêm correspondências astrológicas, listas de anjos e demônios, orientações sobre como efetuar feitiços, conjurar entidades sobrenaturais e da confecção de talismãs, de acordo com o ponto de vista e com os estudos experimentais do autor.

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 Um vira-lata passeava por entre as tumbas, buscando algo que saciasse sua fome. Ao ouvir um ruído, saiu em busca do som, até que encontrou sua fonte. Seus olhos brilharam de medo ao ver uma mão sair de dentro de uma das covas.
A mão pálida, cadavérica, sustentava uma pele podre com odor insuportável. Os ossos estavam à amostra, principalmente na junta dos dedos. O animal correu desesperadamente, mas não tardou para deparar-se com um maltrapilho, sujo de terra e com roupas rasgadas pelo tempo, e este o agarrou. As órbitas do morto-vivo estavam vazias, não havia mais orelhas, e no lugar do nariz só se via um pedaço irreconhecível de carne em decomposição.
Ele torceu o pobre cão como se o animal fosse apenas um pano, rasgou-lhe o ventre e o jogou contra uma lápide de mármore afiado. Pegou seu intestino delgado entre os dedos, uma parte pendia quase tocando o chão, e devorou numa velocidade estupenda. Não era difícil de entender que alguns meses sem comida e soterrado pela terra faria isso com as pessoas.
Absolutamente nada escapava daqueles seres recém-ressurgidos da terra. Mais e mais cadáveres despertavam, e eles matavam e devoravam qualquer coisa. Insetos, ratos e tudo mais eram consumidos. Uma trilha de restos era deixada por onde eles passavam. Apenas um deles, completamente deslocado em meio aos outros, não se fartava desses banquetes horrendos. Ele apenas seguia os outros por entre a cidade adormecida. Ele não reparava na matança, era também o menos deformado, - havia menos de um mês seu falecimento - os vermes ainda não haviam começado a consumir suas carnes. Os olhos foscos ainda estavam em suas cavidades, e a única coisa que denunciava seu estado, era o tom arroxeado que a pele adotara depois da morte.
O sol estava para raiar, ameaçando qualquer plano que aquelas criaturas, em sua maioria anencéfala, pudesse ter. Todos voltaram rapidamente para suas catacumbas, não estavam fortes o suficiente para um ataque em massa. Mas em breve estariam, e então a cidade silenciosa seria povoada por gritos e horror.

                                                          X

Os três amigos, espantados com o que acontecera, liam e reliam o grimório freneticamente, em busca de algo que pudesse reverter aquilo. Eles nada encontraram, a não ser uma pequena charada:
“O mais abundante dos metais contra os Bleaks é eficaz, porém não basta possuí-lo. Quem o possuir tem de ser perspicaz, e em qualquer parte por onde jorraria ao menos um pouco do precioso fluído rubro, deverá acertar um golpe. Que na certa libertará a alma deles a galope.”
Mas de nada adiantaria se a charada não fosse desvendada. Eles então, se puseram a pensar enlouquecidamente no assunto.

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No hospício, Anita desistira de tentar convencer as outras pessoas de que algo sobrenatural havia ocorrido. Agora, ela se empenhava em achar uma forma sutil de agir. Sentia que a ameaça não estava tão distante, muito pelo contrário, era como se ela pudesse tocar os que estavam a poucos metros dali.
A tarde esfriava e Anita não aguentava mais ficar impotente perante aquela situação. Ela podia sentir tanto os invocadores daquele caos, quanto os invocados, e achou ser mais seguro ir à busca dos invocadores. Esgueirou-se por entre a cerca do hospício, usando uma camiseta branca simples, calça jeans e chinelos, o melhor que pôde conseguir, depois correu até chegar à rodovia. Seus curtos cachos negros iam até os ombros, esvoaçando-se. Chegou à cidade ofegante, e seguiu seus instintos até uma casa no centro. Bateu na porta, podia-se ouvir uma voz quase infantil perguntar quem era. Anita respondeu que era a ajuda.

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Os três culpados ficaram completamente pasmos com tudo que a bonita moça de cachos escuros sabia sobre o que eles haviam feito. Foi ela quem desvendou a charada, que se referia ao alumínio, o metal mais abundante, o resto era tão evidente que não havia necessidade de grandes explicações. Ela também percebera pequenas notas de rodapé no livro maligno, que diziam claramente que só mortos há menos de um ano atenderiam ao chamado.
Não tardaram em procurar objetos afiados de alumínio, não foi difícil de encontrar, mas tiverem trabalho em deixá-los bem amolados, pois não poderiam correr o risco de falhar. Evitaram buscar auxílio, pois não acreditariam neles, e já era suficiente uma ser taxada de louca.
A noite se aproximava enquanto os quatros iam direção ao cemitério. Postaram-se com facas de trinchar em punhos, esperando que as criaturas se erguessem de seu esconderijo, não demorou muito e assim que os últimos raios do sol partiram a primeira mão levantou-se da cova.

Com terra recém-revolvida, a “morta” estava num estado de deterioração deplorável, tentou agarrar a menina que estava paralisada, mas o garoto não hesitou e enfiou a lâmina de trinchar no local exato onde um dia batera um coração. A Bleak virou pó quase em instantes, deixando apenas as roupas sujas e maltrapilhas no lugar onde estivera antes.
Seus companheiros não tardaram em ajudar. A garotinha que antes estivera paralisada de temor, agora estava efervescente, bramia sua lâmina com toda a vontade e os Bleaks evaporavam um a um perante ela. Mas eles eram muitos.
O mais fraco já havia tombado, talvez devido à adrenalina, ou a falta de laços que eles tinham para com ele. Os três que restavam de pé se ajuntaram ao redor do corpo inerte.
 Outro tombara, só restava Anita, a enérgica menina e uns poucos Bleaks. Um deles quebrou o pulso da menina, desferiu um golpe de punho cerrado em sua face, que a derrubou agonizante. O outro que estava escondido se jogou às costas de seu semelhante antes que ele atacasse mortalmente a destemida garota, que jazia inconsciente do lado dos corpos dos seus outros dois amigos.
 Anita acabou com os últimos dois que restavam em partes fáceis de atingir, um no braço e a outra no pulso. Ela virou-se para aquele que quase matara a menina e estava sendo imobilizado pelo outro. Acertou-lhe a face, e mirou a faca no abdômen daquele que imobilizara o outro, mas parou imediatamente ao ver o seu semblante sereno e conhecido, a arma estava imóvel a apenas centímetros da barriga dele. Ele lhe era familiar demais, ele tinha sido o único que acreditara nela, e ela o amara, mas ele foi arrancado dela subitamente sem ao menos ter tido direito a uma despedida. Seu coração parara de bater inesperadamente, ela pranteara dias, mas havia se conformado, e o tempo apagara as mágoas e as lembranças não vividas.
Ela não se conteve e, com a lâmina ainda aposta, o beijou suavemente nos lábios. Ele tentou murmurar, mas nenhum som saiu de sua garganta, Anita percebeu, pelo movimento dos lábios, que ele queria ter dito “eu te amo”. Depois disso, pegou as mãos da amada e as guiou com a lâmina em direção a si próprio. Diferentemente dos outros, não virou pó, desfaleceu inerte e como um anjo, sua face outrora roxa, ficou branca e serena, e começou a simplesmente tornar-se uma imagem cada vez mais desfocada até que depois, não restava mais nada.
Anita largou tudo e correu em direção a saída do cemitério, adentrou na mata e correu desesperadamente enquanto lágrimas vertiam dos seus olhos escuros e faziam sua face pálida resplandecer a luz da lua, que sumia por entre as nuvens que anunciavam um forte temporal.
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Dia dos mortos


Homenagens ao finados na Cidade do México

Se você já perdeu um ente querido, e hoje, mesmo 20 anos após a sua morte você continua chorando... Saiba que as coisas não têm que ser exatamente assim!!!
Celebramos hoje, dia 2 de novembro, o dia dos mortos, que é quando nós visitamos o cemitério, entregamos em suas tumbas umas florzinhas, e arriscamos até lágrimas que escorrem dos olhos em sinal de luto e tristeza. E esta data não é exclusividade apenas nossa, brasileiros, mas de muitos outros países como o que vamos tratar agora: O México.
       No México, as pessoas não choram pelos defuntos, muito pelo contrário elas se alegram em relembrar o que estão a sete palmos do chão, afinal eles já estão mortos pra que mais tristeza? Pra quê mais flores baratas que só representam o seu profundo pesar? (ou culpa, caso você tenha sido o assassino do suposto falecido).
E como podemos perceber facilmente,    hoje não é o dia das crianças    !          Não estou me referindo ao dia 12 de outubro, mas sim as próprias crianças. Afinal, nesse dia tão pesaroso que é para nós brasileiros, elas não tem a chance de brilhar com suas travessuras e inocente alegria, ficam reclusas e acham naturalmente tudo muito chato. Quem dera elas estivessem no México! Lá as crianças se deliciam com as caveirinhas de açúcar e chocolate, nos povoados a comemoração é feita nas ruas com música e dança. Nas cidades as festas são feitas nos cemitérios mesmo, famílias e amigos se reúnem próximos as tumbas para se banquetear e jogar conversa fora... Aí sim, elas podem estar ativas, gastando toda a sua energia aparentemente inesgotável obtida através do seu Nescau      
Até a deusa mexicana da morte tem um belo sorriso estampado no rosto, pra eles a morte é apenas outra forma de viver, uma visão bem mais legal que a nossa.
Então, caro leitor, o dia da morte não é o dia da nuvem negra na cabeça de todos. É um símbolo, para nos lembrar que estamos vivos, e que devemos aproveitar melhor a nossa passagem aqui na Terra. Os que já se foram devem estar se esgoelando de onde estiverem (que Deus os mantenha lá), para pararmos de chorar e lamentar, e fazer algo que realmente valide a nossa breve existência, porque a vida é curta e não podemos fazer nem do dia 2 de novembro um tempo perdido.
Artigo de João e Hellen
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