Tardes
de sol e de chuva, um casarão gigantesco, para um pequeno ser, que a cada
visita estava um algo maior, por dentro e por fora. Por fora grandes olhos,
vários. No útero, que muitas crias deu, vários favos, até o teto, cheios do melhor
mel que pode haver.
A
lembrança de velhas cadeiras e mesas. Verdes vermelhas, amarelas, laranjas,
azuis. Sempre dos tons mais berrantes possíveis. Que pareciam menores e menores
com o passar do tempo. E a cada vez mais descascadas. A cada passo, toque,
suspiro, piscada, subia o pó. Pó no qual estão gravadas as digitais das mais
variadas gentes, e de pelo menos uma pequenina. Pequena demais pra segurar os
livros.
Os
livros sempre fora de seus lugares, escondidos na mais bela bagunça, o passar dos
dedos pelas lombadas, que tantos dedos já sentiram, guardava caras surpresas.
Um ser crescendo entre nomes, palavras, páginas, capas, contracapas, lombadas.
Sorrisos e lágrimas.
Hoje,
os olhos estão cerrados. A vida pulsa. Latente. Fraca. Em coma. Mas resta esperança.
E temor. A velha amiga se opera, em longa cirurgia. Esperança de rever abertos
os olhos que viram a mudança ao redor. Temor pela bagunça e pelo pó ancestral.
De terem esterilizado o útero. Medo de terem lhe dado apenas sobrevida, sem as
marcas do tempo que viu passar. Só resta a saudade da bagunça e do pó.